TÁGIDE: NINFA GASTRONÔMICA EM LISBOA

redação dcommx

Descubra os encantos do restaurante debruçado sobre os telhados do centro histórico e com vista espetacular para o Tejo

REDAÇÃO BAZAAR 20/09/2019

O Tágide se deita sobre uma das vistas mais lindas de Lisboa - Foto: Fabio Von der Liebl
O Tágide se deita sobre uma das vistas mais lindas de Lisboa – Foto: Fabio Von der Liebl

Victor Drummond, de Lisboa

Estar em Lisboa é se encantar com as gaivotas, sentir no ar o clima litorâneo com o Oceano Atlântico a quinze minutos do centro, emocionar-se com o dourado do sol a refletir-se nos azulejos. E claro, experimentar a magia gastronômica do povo português. É impressionante o cuidado e refinamento culinário. Fica melhor ainda quando visitamos um dos mais prestigiados restaurantes lisboetas dos últimos trinta anos – e me arrisco a dizer, por que não, do país? – o Tágide, que já teve uma estrela Michelin e é recomendação frequente no famoso guia. A experiência já começa na entrada: é preciso tocar a campainha de uma clássica porta verde, onde adesivos de vários anos indicam os destaques no Guia Michelin. O foyer é elegante e discreto, como muitas pessoas e lugares lisboetas. O host muito simpático pendura meu casaco e subimos as escadas.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

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O belo casarão que abriga o restaurante, no coração do sofisticado bairro do Chiado, já é um presente arquitetônico: construído no século 18, fica no largo da Academia Nacional de Belas Artes, reduto de artistas e gente descolada. A própria restaurateur Suzana Barros de Brito é formada por esta escola. E trouxe seu esmero estético para o décor, com azulejos portugueses do século 17, acervo da família, colecionadora de obras de arte. O Tágide se deita sobre uma das vistas mais lindas de Lisboa, se integrando aos prédios do centro histórico, ao mesmo tempo em que se estende sobre o rio Tejo. Locação para filmes românticos com pitadas de roteiro cult: “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia”, como diria Fernando Pessoa.

Mas vamos falar do menu, assinado pelo competente chef Gonçalo Costa, que em seus 18 anos de jornada, já passou por cozinhas famosas em Lisboa como do Eleven e do Hotel Ritz Four Season. Aprimorou seus conhecimentos na Inglaterra e na Espanha ainda muito jovem. E antes de assumir o Tágide, esteve por cinco anos em São Paulo, nos restaurantes Chakras e Skie (ao lado do chef francês Emmanuel Bassoleil).

Experimentamos o menu degustação clássico do almoço. Os prazeres já começam com o simples couvert, – uma proposta de “comfort food”, do qual Costa é adepto. São servidos três tipos de pães portugueses (considerados por muitos um dos melhores do mundo). Recomendo pegar um de cada. Acompanhados de azeite de oliva, uma cremosa manteiga de cabra e outra de vaca (tão leve que mais parecia uma manteiga Ghee).

Para harmonizar, o vinho branco “Saraivas”, rótulo exclusivo da casa e preparado em uma vinícola próxima à Lisboa em colaboração com o chef. Leve, refrescante e frutado. Notas muito complementares aos aromas do couvert.

Um amuse-bouche chega à mesa. Diferente do aperitivo comum, eles não são pedidos através do menu pelos clientes. São servidos de graça, como uma espécie de agrado e de acordo com uma escolha específica do chef. Este veio servido com purê de berinjela e caviar. Exótico e leve. Lembra um ceviche, pelas texturas do pescado e notas de coentro.

Apesar de não consumir carne em minha dieta, nestes momentos cedo aos prazeres do paladar em nome da informação. De entrada, Gonçalo preparou uma língua de vaca escarlate. Suave e muito saborosa. Sensação de estar comendo um carpaccio, que dissolve na boca. A base de cogumelo traz sabores audazes e harmoniosos.

O primeiro prato principal foi uma caldeirada de tamboril e quinoa com molho de fígado, acompanhado de mini-cenouras. Peixe macio e envolvente. A quinoa no ponto certo de cocção, com uma macia crocância.

O segundo prato principal foi um inusitado pombo (criado em cativeiro) em duas texturas com salsifi e mirtilo. A textura mais consistente – os pombos tem músculos bem enrijecidos – se complementa com a segunda mais macia, alcançada por elaborado método de cozimento. A carne dissolve-se equilibradamente na boca, acentuada por aromas fortes. O purê e blueberry que a acompanham conferem leveza e uma proposta agridoce à criação de Gonçalo Costa.

No menu degustação, você pode optar pelo suplemento para quatro vinhos. Vale à pena, porque terá a experiência de uma refeição harmonizada com outra importante riqueza gastronômica de Portugal, que são os vinhos locais. Um dos que nos foi servido é composto de quatro castas: syrah, merlot, uva touriga nacional e tinta roriz: uma explosão de notas amadeiradas e de fungos, com leve aroma de trufas. As notas do topo são mais frutadas, conferindo um caráter único a este vinho.

E para encerrar, uma sobremesa com poesia até no nome: “Memórias da Tágide” um crepe Suzette cítrico, refrescante e com sorvete de nata e flores comestíveis. Alguns chamam de refeição. Prefiro chamar de ritual.

A surpresa final ficou por conta da visita à nossa mesa do muito gentil (e talentosíssimo) Gonçalo Costa. Seus toques de genialidade, as incansáveis pesquisas de sabores e busca por fornecedores com produções muito artesanais, somados à vista espetacular do Tágide dão o toque final de experiências visuais e gustativas.

Passeio de barco pelo Tejo
Já que o restaurante Tágide é uma moldura com vistas incríveis para o cartão-postal do Tejo, antes desta experiência, a Bazaar indica velejar pelas águas azuis deste rio. Embarque no Évora, um charmoso e despretensioso barco construído a vapor, de 1940, ainda em atividade. Ele sai pelas manhãs do Cais do Sodré e por cerca de uma hora e meia você conhece Lisboa de uma outra perspectiva, passando pelos principais pontos turísticos, culturais e arquitetônicos da cidade.

Termine essa experiência romântica com o almoço dos deuses servido no Tágide. Para quem não sabe, Tágides são as ninfas do Tejo, segundo uma adaptação das nereidas, da mitologia greco-romana. Camões pediu inspiração à elas para compor “Os Lusíadas”. Dos registros literários para uma imersão gastronômica que tornará Lisboa e o Tejo da mitologia realmente memoráveis.

Reservas para Restaurante Tágide: www.tagide.com
Passeio pelo Tejo no barco Évora: www.instagram.com/seaventy

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ATUALIZADO EM 26/09/2019