FORMAFANTASMA: WHERE DESIGN MEETS NATURE

Victor Drummond

Exposição de arte na Serpentine Gallery em Londres conta a relação entre o design e a preservação (ou destruição?) ambiental

For English see below

Essas peças de madeira de vários lugares do mundo nos ensinam sobre a diversidade da natureza e a exploração humana / These wood pieces from many places around the world teach us about the diversity of nature and the human exploration

Formafantasma: onde design e natureza se encontram

Por Victor Drummond, Londres

Essa semana fomos visitar a belíssima exposição Formafantasma Cambio, que está em exibição na Serpentine Gallery, dentro do Hyde Park, em Londres. O prédio por si já é um presente: uma antiga casa de chá dos anos 70 reativada para virar museu, com design assinado pela admirável Zara Hadid. 

 

Formafantama: Cambio é uma exposição que questiona a responsabilidade do design na preservação da ecologia e dos temas ligados ao meio-ambiente. Com curadoria de Rebecca Lewin, a mostra poderia por si só ser apenas bonita. A montagem, os displays, a iluminação, as peças escolhidas, a beleza do próprio prédio e o minimalismo proposto, já são um belo presente aos olhos.

Mas discutir o papel político e social do design e dos materiais (ferramentas, mobiliários, instrumentos musicais) construídos pelo homem ao longo do processo civilizatório nos faz refletir até onde vai a beleza e até onde vai a destruição ambiental. Me chamou muito a atenção por exemplo, uma sequência de peças, instrumentos musicais, diversos tipos de madeiras, ferramentas usadas na construção civil que também usam madeira e elementos naturais como ferro e madeira (o martelo) que foram apreendidos pela Interpol, em países da União Européia, nos últimos 12 meses. Ali estão apenas algumas dezenas selecionadas pela curadoria. Material ilegal. Feito com madeira ilegal. De exploração ilegal das florestas. Um amigo pianista ontem me perguntou durante o jantar, enquanto eu descrevia brevemente a exposição para ele: “para um piano fico até preocupado, com a quantidade de madeira utilizada. Mas para um violino, será que traz um impacto tão grande assim para as florestas?” Sinto lhe informar que faz. Primeiro porque não será produzido apenas um violino. Mas dezenas de milhares deles. Depois porque não importa se é para fazer uma prateleira ou um piano: se não há liberação, se é área de proteção ambiental, aquele ato de cortar a árvore ou de devastar hectares é o mesmo: maneira irresponsável e ilegal de se explorar a natureza.

E por falar em piano e música, uma instalação também me saltou aos olhos – e aos ouvidos – duas placas de madeira muito finas, em sua cor natural, suspensas por um cabo de aço, conectados do teto ao piso. Duas pequenas caixas de som conectadas atrás destas placas projetam sons parecidos com de um violino ou de uma orquestra afinando os instrumentos. A obra foi feita com a madeira mais utilizada para se fazer instrumentos musicais (pianos, violinos, guitarras, violões). Uma madeira muito acústica. Que acolhe ou potencializa o som da melhor maneira. Um questionamento sobre o poder da natureza de transformar. Ou de dar forma a tudo aquilo que faz bem à sociedade. É possível fazer uso sem destruir? Como profissional do design e do Marketing, trabalho para e torço que sim.

 

A exposição é uma tentativa de entender a relação de exploração da natureza de maneira amigável ou com o menor impacto possível e como os governos tem se posicionado sobre o assunto. Seleções de importantes acordos e documentos internacionais como o tratado assinado na Eco 1992, o Acordo de Paris, o Protocolo de Kioto: estão todos ali. O mapeamento da região Amazônica no Brasil, iniciado nos anos 70 para fim de exploração comercial da florestas e ampliação de pastagens também. E claro, a comparação do que é a Amazônia hoje: uma devastação onde caberiam muitos países da Europa. E chega-se à conclusão que ainda falta muito para avançar, fiscalizar quando estamos falando de conter a destruição do Planeta. Muito do que é prometido nestes grandes acordos é apenas empurrado para o próximo encontro internacional entre as nações mais ricas. É preocupante. 

 

Um repertório incrível de troncos de madeira de vários lugares do mundo. Algumas delas foram expostas na Great Exhibition ou fazem parte da Royal Collection. Algumas viraram acervo do Victoria & Albert Museum. Algum lugar precisa guardar e contar a história do planeta quando estas espécies não mais existirem. Em cada uma destas peças há um arquivo biológico que nos conta sobre a mudança climática e sobre o tempo de vida natural destas árvores.

A palavra “Cambio”, parte do nome da exposição, é muito familiar no portugês e no espanhol. Vem do latim “cambium”, que significa mudança. Ela se refere também à uma membrana em volta das árvores, onde a madeira do lado de dentro. É uma gravação do passado das árvores, mas que indica o crescimento para o futuro. Este é um grande desafio do design: encontrar formas, materiais, soluções, que olhem com respeito para o passado, de onde saem muitas referências. Mas também ter um olhar para o futuro, ao encontrar o balanço entre sustentabilidade e inovação.

Em tudo o que fazemos no Grupo DCommX, com os projetos de marketing e branding da Drummond Comunicação para seus clientes, nos projetos de design de interiores do Studio Von der Liebl, nas criações e pesquisas de produto e de moda que Von der Liebl, meu sócio, e eu temos desenvolvido e assinado, temos buscado este ponto de equilíbrio. Que o futuro do design passe por esta consciência política-ambiental que começa em cada um de nós. E aos poucos, vamos encontrando nossas respostas colaborativas para um Planeta mais são e sereno.

Veja mais no video no final da página.

 

English Version

Formafantasma: where design meets nature

Art exhibition at Serpentine Gallery in London tells the relationship between design and environmental preservation (or destruction?)

By Victor Drummond, London

Different species of wood to produce the same stool model: find the balance and respect with the nature is an obligation for the manufacturers / Diferentes espécies de madeira para produzir o mesmo modelo de banqueta: encontrar o equilíbrio e o respeito com a natureza é uma obrigação dos fabricantes

This week we went to visit the beautiful exhibition Formafantasma Cambio, which is on display at the Serpentine Gallery, inside Hyde Park, London. The building itself is already a gift: an old tea house from the 70s reactivated to become a museum, designed by the admirable Zara Hadid.

Formafantama Cambio is an exhibition that questions the responsibility of design in preserving ecology and themes related to the environment. Curated by Rebecca Lewin, the show itself could be just beautiful. The assembly, the displays, the lighting, the chosen pieces, the beauty of the building itself and the proposed minimalism, are already a beautiful gift to the eyes.

But discussing the political and social role of design and materials (tools, furniture, musical instruments) built by man throughout the civilizing process makes us reflect on how far beauty and environmental destruction go. It caught my attention for example, a sequence of pieces, musical instruments, various types of wood, tools used in construction that also use wood and natural elements such as iron and wood (the hammer) that were seized by Interpol, in countries of the European Union in the last 12 months. There are only a few dozen selected by the curators. Illegal material. Made with illegal wood. Illegal exploitation of forests. A pianist friend yesterday asked me over dinner, while I briefly described the exhibition to him: “For a piano I am even concerned with the amount of wood used. But for a violin, does it have such an impact on the forests?” I’m sorry to inform you that it does. First, because not only one violin will be produced. But tens of thousands of them. Then because it doesn’t matter if it is to make a shelf or a piano: if there is no clearance, if it is an area of environmental protection, that act of cutting the tree or devastating hectares is the same: irresponsible and illegal way of exploring nature.

And speaking of piano and music, an installation also popped into my eyes – and ears – two very thin wooden boards, in their natural colour, suspended by a steel cable, connected from the ceiling to the floor. Two small speakers connected behind these plates project sounds similar to a violin or an orchestra tuning the instruments. The work was made with the wood most used to make musical instruments (pianos, violins, guitars). Very acoustic wood. That welcomes or enhances the sound in the best way. A question about the power of nature to transform. Or to shape everything that is good for society. Is it possible to use it without destroying it? As a professional in design and marketing, I work and I hope so.

The exhibition is an attempt to understand the relationship of exploring nature in a friendly way or with the least possible impact and how governments have positioned themselves on the subject. Selections of important international agreements and documents such as the treaty signed at Eco 1992, the Agreement of Paris, the Kyoto Protocol: they are all there. The mapping of the Amazon region in Brazil, started in the 1970s for the purpose of commercial exploitation of forests and expansion of pastures as well. And of course, the comparison of what the Amazon is today: devastation that would fit many countries in Europe. And we come to the conclusion that there is still a long way to go, to monitor when we are talking about containing the destruction of the Planet. Much of what is promised in these major agreements is only pushed to the next international meeting between the wealthiest nations. It’s worrying.

An incredible repertoire of logs from around the world. Some of them were exhibited at the Great Exhibition or are part of the Royal Collection. Some have become collections of the Victoria & Albert Museum. Some place needs to keep and tell the story of the planet when these species no longer exist. In each of these pieces there is a biological archive that tells us about climate change and the natural life span of these trees.

The word “Cambio”, part of the name of the exhibition, is very familiar in Portuguese and Spanish. It comes from the Latin “cambium”, which means change. It also refers to a membrane around the trees, where the wood grows the inside. It is a recording of the past of the trees, but it indicates growth for the future. This is a major design challenge: finding forms, materials, solutions, that look with respect to the past, from which many references come from. But also to look to the future, when finding the balance between sustainability and innovation.

In everything we do in the DCommX Group, with Drummond Communication marketing and branding projects for its clients, in the interior design projects of Studio Von der Liebl, in the product and fashion creations and research that Von der Liebl, my partner, and I have developed and signed, we have sought this balance point. May the future of design pass-through this political-environmental awareness that begins in each one of us. And little by little, we find our collaborative answers for a healthier and more serene Planet.

 See more in the video below.

Where:

Serpentine Sackler Gallery

29 Sep — 15 Nov 2020

Achei que possuía curvas. Para que pudesse remoldá-las ao meu modo. Ou talvez telas em branco, para que pudesse pintá-las sob meu prisma. Mas encontrei um vão por onde entra e sai a sua maneira tão sutil de fazer a sua arte. E descobri que era por essa forma, essa passagem tão única, é que eu deveria habitar para fazer morada. (Arte abstrata – Victor Bhering Drummond)

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