MADONNA REFORÇA EM TURNÊ SEU ATIVISMO SÓCIO-POLÍTICO

redação dcommx

Apresentação é carregada de história, humor e sofisticação

REDAÇÃO BAZAAR 31/01/2020

Foto: Divulgação/Ricardo Gomes
Foto: Divulgação/Ricardo Gomes

Victor Drummond, Londres
(Produção: Drummond Comunicação)

Quando Madonna divulgou que sua nova turnê “Madame X” não seria em grandes estádios ou arenas, a imprensa e o público estranharam. “Quero um show mais intimista, mais próxima dos meus fãs.”, explicou ela. Os shows são em teatros (importantes nas cidades por onde ela está passando, mas teatros, com capacidade média para duas mil pessoas. Bem diferente do público médio de 50.000 pessoas que ela costuma receber por espetáculo).

SIGA A BAZAAR NO INSTAGRAM

Bazaar foi conferir o primeiro show da rainha do pop em Londres, no The London Palladium, no descolado bairro do Soho. Um lindo teatro de 1910 com 2286 lugares.

O show é um verdadeiro teatro-musical, dividido em quatro atos (aliás, Madonna é a precursora em criar shows divididos em momentos, exatamente como num roteiro teatral). As dramáticas cortinas vermelhas com a logo da turnê se abrem e atrás surge uma quarta parede – recurso muito utilizado no teatro contemporâneo. Trata-se de uma tela com transparência, como uma parede imaginária, onde são projetadas imagens.

Foto: Divulgação/Ricardo Gomes
Foto: Divulgação/Ricardo Gomes

A silhueta de Madonna sentada datilografando, enquanto frases como (“the artists came to destroy the peace”) surgem nesta parede ao som de tiros, com imagens de vidros sendo destroçados. Um bailarino performa ao som das balas, enquanto seu corpo vai ao chão. Ele resiste, enquanto a datilógrafa insatisfeita, edita e aumenta o tamanho e peso seu texto, e consequentemente, o poder dos tiros.

Foto: Divulgação/Ricardo Gomes
Foto: Divulgação/Ricardo Gomes

É a música “God Control” que dá início ao espetáculo, com as mesmas referências cênicas e estéticas que você pode encontrar no clipe oficial. Sangue de inocentes por todos os lados. Uma crítica à violência, ao uso de armas pela população, ao massacre às crianças em escolas e ataques contra a comunidade LGTB em casas noturnas. É contra esta realidade que a rainha do pop tem discursado durante toda sua carreira.

“Dark Ballet” traz sua obsessão por criticar a igreja católica e o sistema religioso. “Eles são muito simplistas. Pensam que não sabemos dos crimes que eles tem cometido.”, numa tradução livre da letra de sua música. Um misto de drama e performance circense e clown são o fio condutor para a coreografia, dirigida por Megan Lawson.

Foto: Divulgação/Ricardo Gomes
Foto: Divulgação/Ricardo Gomes

O show é todo pautado no álbum Madame X, mas do trabalho Bedtimes (1994) é garimpada a música “Human Nature”, com uma presença mais que especial no ballet: das filhas gêmeas Esther e Stella e de Mercy James, que acaba de completar 14 anos. No embalo da nostalgia para os fãs, sucessos como “Papa Don’t Preach”, “Vogue” (numa performance onde escadas e andaimes não podem faltar no cenário) também entram no setlist.

Portugal ganha grande destaque. Madonna fala sobre sua mudança para Lisboa. E como literalmente virou uma “Mom Soccer”, por se mudar para a cidade para matricular seu filho David Banda na escola base do time Benfica. “Eu só tomava vinho, comia bacalhau, cavalgava nas praias lindas e engordava. Não tinha amigos e me sentia sozinha. Até que meu filho disse: ‘mãe, não seja patética. Você precisa sair para fazer amizades.’” E foi então que a cantora começou a frequentar clubes de fado.

Onde também conheceu a cantora fadista Celeste Rodrigues, irmã da outra famosa cantora portuguesa Amália Rodrigues (tão importante para o país que está enterrada no Panteão Nacional, ao lado dos presidentes da República e de homenageados como Camões e Pedro Álvares Cabral). Celeste deixou como herança seu bisneto Gaspar Varela, exímio guitarrista e tocador da viola do fado. Madonna “adotou” o garoto de apenas 16 anos (que já passou reveillón na casa dela de NYC) e é um dos principais músicos da Madame X Tour. Ela o apresenta no palco, lhe oferece uma cerveja (morna e salgada, segundo ela), onde Gaspar toca a música “Fado Pechincha” para Madonna cantar. Na sequência, surge uma cenografia inspirada no tradicional bairro lisboeta de Alfama, com seus azulejos portugueses, as pequenas janelas e varandas. Ali Varela sola mais algumas músicas, onde Madonna apresenta seu número de “Welcome to my Fado Club”.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Momento do business, como ela mesma disse. Madonna tira uma selfie com uma câmera Polaroid e a leiloa para a plateia. 100% da venda é destinada para projetos sociais que ela apoia. Um fã oferece £ 1,500 e leva o “souvenir”.

O clipe de uma longilínea bailarina de longos cabelos negros é projetada em preto e branco na quarta parede. Coreografia inspirada no ballet contemporâneo. Para surpresa dos fãs, mais uma membra da família: é Lourdes Maria, a primogênita. Sua homenagem vai além dos palcos; o take final do vídeo dá close na tatuagem “MOM” que ela carrega nas falanges da mão direita.

Cada vez mais parecida com a mãe dos anos 90, no clipe de “Like a Prayer”. A música aliás, também está no revival, com o releitura do figurino das turnês anteriores (hoje assinado por Eyob Yohannes) e um coral poderoso de mulheres negras, presente em outros backing vocals, num tom quase eclesiástico.

Sua celebração e respeito com a África se faz presente em todo o espetáculo. Dos músicos e bailarinos, em sua grande maioria negros, ao convite para a apresentação de “As Batukadeiras”, um grupo de mulheres de Cabo Verde que usam pequenos instrumentos para batucar no meio das pernas. Durante a colonização portuguesa, foram impedidas pela igreja católica de utilizar os tambores afros, porque eram um insulto para o Deus cristão. A crítica contra a colonização e as injustiças dos sistemas sociais está muito bem amarrada no setlist, nos vídeos projetados, no casting e nas brilhantes participações especiais.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A estratégia do teatro funcionou. Ela desce do palco e vem interagir com os fãs. Face to face. A Madonna intocável é desconstruída com Madame X, que segundo as performances e figurinos, é um personagem com um quê de agente secreto, prisioneira, cantora de cabaré, professora de tcha, tcha, tcha, de hipismo e prostituta.

Mas é no discurso anti-religião, mas sem perder a fé e sua ligação com o sacro, na sua postura combativa por um mundo melhor, na sua crítica contra o descaso com o planeta, na sua luta por mais representatividade da comunidade LGTBQIA+, que Madonna continua sendo Madonna. Madame X é um grande manifesto pela liberdade, pelo empoderamento da mulher na sociedade e pela dignidade e pelo respeito humano. A plateia saiu emocionada. Madame X pode ser tudo o que ela quiser. E o público também.

Setlist
● God Control
● Dark Ballet
● Human Nature
● Express Yourself (a cappella)
● Papa Don’t Preach (string introduction)
● Vogue
● I Don’t Search I Find
● American Life
● Batuka
● Fado Pechincha (Isabel De Oliveira cover)
● Killers Who Are Partying
● Crazy
● La Isla Bonita
● Welcome To My Fado Club
● Sodade (Cesária Évora cover)
● Medellín
● Extreme Occident
● Rescue Me (Dance Interlude)
● Frozen
● Come Alive
● Future
● Like a Prayer
● Encore: I Rise

A turnê ainda segue está em cartaz em Londres e depois segue para Paris. Veja no site que vende os ingressos.

TAGS : LONDRESMADONNAMEGAN LAWSONTHE LONDON PALLADIUM

ATUALIZADO EM 01/02/2020